Um grande empreendedor
Na galeria de vultos ilustres de Itu, não poderia faltar um homem que se distinguiu como cidadão competente e empreendedor, que saudade deixou entre nós: Dr. Emílio Chierighini.
Tive pouco contato com ele, apesar de sermos quase vizinhos na Rua dos Andradas durante muitos anos. Lembro-me dele como um homem sério, simples, de voz suave e calma, sem pressa de concluir uma ideia ou diagnóstico mais preciso, que sempre tinha a palavra certa que sossegava a aflição numa doença, especialmente de um filho pequeno.
Dr. Emílio deixou um exemplo tão profundo de vida que permanece vivo até hoje nas lembranças daqueles que conviviam com ele. “Falar sobre vovô Emilio, é evocar as melhores lembranças da infância que uma criança pode ter. Lembro-me dele sempre com muita ternura, certamente porque foi o que recebi dele”, recorda com carinho a neta Paula.
Para nós, pacientes, os cuidados sempre atenciosos do profissional médico, entre a família, os laços afetivos sempre se faziam presentes. “São muitas as lembranças boas e deliciosas, avô carinhoso, presente, brincalhão e muito atento a todos e a tudo, principalmente aos netos”, como lembra a neta Ana Regina.
Para Cláudia, a simpatia italiana era uma das recordações, “na minha infância tive uma convivência intensa, por sermos vizinhos. Família italiana, casa cheia, muita alegria. Meu avô tinha um consultório ao lado de casa. Quantas vezes, entre uma consulta e outra, eu entrava lá escondida para mexer nas suas coisas, como ele ficava bravo comigo!”.
São as memórias da neta Maria Isabel que ajudam a desenhar a biografia do Dr. Emílio. Nascido em Capivari, interior de São Paulo, em abril de 1907, era o terceiro filho de numerosa prole de Augusto Chierighini e Anna Schincariol, imigrantes italianos. Cursando o último ano da Faculdade de Medicina no Rio de Janeiro, casou-se com a ituana Hermínia Gazzola e tiveram três filhos: Hélio, Ennio e Emilce. A família cresceu, o casal teve doze netos e vinte e dois bisnetos.
Trabalhou inicialmente em Salto, vindo para Itu em 1947, onde exerceu a profissão de médico com grande êxito, até seu falecimento no verão de 1983.
A missão do médico sempre esteve acima de tudo, como detalha a neta Maria Isabel: “Dr. Emílio conhecia e entendia as dificuldades e agruras vividas pela maior parte da população ituana da época, principalmente os menos privilegiados. Não raro, pegava seu automóvel e por seus meios, se deslocava até sítios e fazendas de área rural, para atender a chamados de gente humilde, a qualquer hora do dia ou da noite, que de antemão já se sabia, que em sua maioria não lhes poderia pagar seus honorários. Nesses casos, ele não apenas dispensava o pagamento das consultas realizadas, como também se sentia bem com um simples “muito obrigado” do paciente.”
Não só a família, mas os amigos também confirmam que muitas vezes, especialmente nas madrugadas, Dr. Emílio saía de casa de pijama, em seu conhecido “Fusquinha”, para dar atendimento ao chamado de seus pacientes com urgências.
Tinha pendor natural pelo empreendedorismo, que o levou a fundar e construir, associado com seus dois filhos médicos, Hélio Chierighini e Ennio Chierighini, dois hospitais em Itu: “Hospital Nossa Senhora Candelária” (1964) e anos mais tarde, o “Hospital Psiquiátrico Emilio Chierighini”.
Como conta a neta, sempre foi um homem de hábitos simples. Quando jovem gostava de tocar clarineta, tinha um carinho especial pela vida no campo e verdadeira paixão pelas criações de animais.
Para Dr. Emílio, a convivência familiar extremamente importante deixou marcas: “Nossa relação foi sempre cordial e eu, vinda de longe para fazer parte da sua família, sempre me senti acolhida e amada. Falar de pessoas especiais já se diz tudo: são especiais”, recorda com carinho a nora Maria Elisa.
Entre os netos, os carinhos também se transformaram em ensinamentos. “Escrevi na lápide do túmulo dele, parafraseando um pensador que muito admiro, que ‘o amor continua para além da vida e para além da morte. O amor é o único sentimento que dá continuidade à vida do homem’. Decorridos mais de trinta anos da partida, continuo a agradecer e a pedir bênçãos, por todos os seus ensinamentos, absolutamente permanentes, plantados em nossos corações”, registra Marília Coelho Chierighini Moraes.
Lembrar e deixar gravada a convivência com uma figura humana tão especial como foi Dr. Emílio, faz com que netos e amigos que relatam suas origens, formação profissional, os seus feitos, suas conquistas e derrotas, construam uma homenagem emocionante.
Acadêmica Maria de Lourdes Figueiredo Sioli – Cadeira nº 28
Fonte: extraído do livro “Itu – Presenças Ilustres”, volume 3, da Academia Ituana de Letras – Acadil – Foto: coleção família Chierighini
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Dr. Emílio Chierighini também empresta seu nome à UBS – Unidade Básica de Saúde, que funciona no Jardim Novo Mundo, e também ao Hospital Municipal, inaugurado em 02 de fevereiro de 2019, como parte das comemorações do 409ª aniversário de Itu.